“O Olho Mágico do Amor” (1981) tem início com uma situação que remete a “Psicose” (1960): a jovem secretária Vera (Carla Camurati) descobre, numa sala decorada com diversos pássaros empalhados (ela está em seu primeiro dia de trabalho na Sociedade Paulista de Amigos da Ornitologia, localizada na Boca do Lixo), um orifício na parede que lhe dá acesso às intimidades sexuais da prostituta Penélope (Tânia Alves). Dirigido pela dupla José Antonio Garcia e Ícaro Martins, o filme parece, aos poucos, se desprender dessa referência primeira, assumindo mais abertamente a identidade levemente erótica ainda em voga no início da década de 1980. A constante exploração do corpo de Camurati pela câmera de Garcia e Martins é sintomática disso.
Na verdade, entretanto, “O Olho Mágico do Amor” permanece uma experiência hitchcockiana até o fim. Não na sua dimensão mais óbvia do “filme de suspense”, mas no interesse constante em tratar da irresistibilidade do gesto de olhar, presente na breve cena de “Psicose” referenciada e em “Janela Indiscreta” (1954) como um todo. Desse último, aliás, vem a analogia do voyeurismo com o cinema. Vera escrutina a ação desenrolada no quarto ao lado e, conforme seu olhar se confunde com frequência cada vez maior com o do espectador, ela passa a conduzi-lo, chegando a introduzir novo orifício na parede, buscando por um melhor enquadramento para as cenas de sexo protagonizadas por Penélope.