O Mutilador é o primeiro (e, felizmente, único) trabalho de um sujeito chamado Buddy Cooper. É difícil saber se Buddy era um amante de horror sangrento ou apenas um picareta que tentou aproveitar o filão dos slasher movies para faturar uns trocados (já que ele, além de diretor e autor do roteiro, também é produtor da película). O filme originalmente se chamava Fall Break (“Feriadão”); felizmente, Buddy resolveu trocar para algo muito mais interessante – fala sério, você preferiria assistir uma produção de horror chamada Feriadão ou O Mutilador? E o roteiro de Cooper é um primor de inteligência. Começa numa casa de campo, onde uma mulher (Pamela Weddler Cooper, mãe, esposa ou talvez irmã do diretor) prepara um bolo de aniversário; na sala, um garotinho (Trace Cooper, filho, irmão mais novo ou talvez sobrinho do diretor) tem a fantástica ideia de limpar as espingardas da coleção de armas do seu pai, que, no caso, é o aniversariante do dia. Enquanto lustra uma das armas, o garoto tem também a brilhante ideia de apontar a espingarda como se fosse um cowboy e apertar o gatilho. E não é que o papai aniversariante foi burro o suficiente para guardar uma espingarda carregada num armário sem chave, à disposição do filho pequeno? Pois é: a espingarda dispara, o tiro atravessa a porta da cozinha e, num caso raro de mira fantástica que nem soldados altamente treinados têm, atinge em cheio as costas da mamãe, que cai morta. O piá de merda se aproxima do cadáver e solta um “Mommy! Mommy!” tão falso e forçado que o espectador fica com vontade de dar um tapão na orelha do garoto pra ver se ele acorda. Ao mesmo tempo, o papai volta de uma caçada e encontra a esposa caída numa poça de sangue. Ele então dá uma bomba no lado da orelha do guri (merecida!!!) e, aparentemente lelé da cuca e chocado com a cena, arrasta o cadáver da esposa para a sala, onde relaxa tomando um uisquinho. E assim começa nossa história. Cruz-credo…
A trama dá um salto de uns 15 anos no tempo e reencontramos nosso garoto atirador de elite e assassino de mães, agora já crescido. Ele se chama Ed Jr. (Matt Mitler, que posteriormente apareceu em Basket Case 2, de Frank Henenlotter). Ed, aparentemente, leva uma vida normal, alheio ao fato de ter fuzilado e matado a mamãe quando criança. O mesmo não se pode dizer de seu pai, Jack (interpretado por Jack Chatham), que após perder a esposa ficou meio tantã, jogou-se de cabeça no alcoolismo e nunca mais falou direito com o filho – parece ter ficado internado por um tempo também, mas o roteiro não se preocupa em explicar isso, muito menos se alguém foi incriminado pela morte da mamãe. Enfim, é feriadão e Ed e sua namorada Pam (Ruth Martinez) tentam encontrar algo para fazer, junto com dois casais de amigos – Mike (Morey Lampley) e Linda (Frances Raines), Ralph (Bill Hitchcock) e Sue (Connie Rogers). Sim, você não leu errado: um dos atores tem sobrenome “Hitchcock”, o que torna O Mutilador um caso raro em que você pode dizer “Vi um filme do Hitchcock que era uma bela merda!”. hehehehe
Quando os seis jovens manés já estão conformados em passar o feriadão no campus, eis que Ed recebe um telefonema do papai. Jack quer que ele e seus amigos vão até sua casa de praia para limpá-la. É claro que o grupo adora a ideia; afinal, limpar uma casa, seja na praia, no campo ou na cidade, é um programa tão divertido… e ainda mais num feriadão! Curiosamente, Ed nem estranha o fato do pai, que nunca falou com ele após a morte acidental da esposa, e que ainda por cima não bate bem da cabeça, ter feito tal convite de uma hora para a outra. Enfim, são meras conveniências do roteiro… Não demora cinco minutos para a turma se mandar pra praia.
A casa da família fica num local deserto, onde não tem polícia nem vizinhos próximos (que conveniente!). Os jovens encontram a porta da frente aberta, só que encaram como algo normal – assim como o “pequeno detalhe” de um velho machado medieval pendurado na parede ter desaparecido misteriosamente. Manés que são, também não se preocupam em checar os cômodos da casa (afinal, ninguém checa os cômodos de uma casa de praia fechada há anos, não é verdade?). Pois se tivessem checado, eles descobririam logo no começo do filme que, na sala de ferramentas no porão da casa, está escondido o próprio Jack, o pai de Ed, que vem a ser o “Mutilador” do título. Aparentemente, Jack remoeu a morte da esposa estes anos todos, e finalmente resolveu dar o troco no seu filho assassino. O roteiro só não se preocupa em explicar porque ele não se vingou antes, quando Ed era um pirralho e não tinha condições de se defender, ou porque não se preocupou em pegar o filho sozinho, para não ter o trabalho de matar todos os seus amigos antes de chegar à vítima prioritária…