ruth sartz

dor versus amor II

[diálogo com a carta para yuri]
me perguntam de minha relação com a dor
digo que não entendo e que não pretendo entender
se sou pego no ato, é somente pelo meu amor
pois da dor, em vida não preciso ser
decerto que o amor gera conflitos
(mais daqueles que em mim suporto)
ao passo que carrego a morte,
permito sobrar de mim apenas as cartilagens e os (destr)ossos!
o resto que carrego desse platônico amor-próprio
caminha nas entrelinhas, mas atropela a margem destilando ódio,
e os acertos desse meu dismórfico eu, mesmo que na supra-sanidade
fazem o enterro de minha tão distante dignidade indócil.

é manhã em brasília

chove no asfalto quente de brasília:
tudo se concentra nos cânones institucionais das implacáveis métricas federais
a soberba indigesta dos peões de terno sufoca até mesmo os estômagos mais resistentes do planalto
é manhã em brasília: bom dias, apertos de mão, relatórios, despachos, ofícios... nada me consome tanto!
ainda que a carne pútrida exposta de toda essa matéria fútil me engula pelas entranhas, resisto pela fé que carrego nos túneis gélidos de minha magnum 44
meu exército sou eu e minhas dores, (di)vagando pelos escombros desse poço sem fundo chamado terra "natal"
o relógio se contorce, as horas se dissipam,
é manhã em brasília: chronos asfixiado em seu própr